sábado, 3 de outubro de 2015

Asfalto de Borracha

Já pensou em uma forma mais econômica para conservar as rodovias e, ainda, reciclar toneladas de pneus usados arranjando ele como um material para pavimentação de vias públicas?


Asfalto com revestimento de Borracha

Texto adaptado por Érica de Vargas

Ainda falamos de futuro, pois no Brasil seu emprego é adotado, mas ainda demasiadamente. A nova tecnologia reduzirá os custos de manutenção e aumentará a vida útil das estradas e vai se constituindo numa alternativa para o uso de pneus consumidos. Diversos países já utilizam esse processo habitualmente, em boa parte da malha rodoviária. São eles: Estados Unidos, África do Sul, China, Austrália, Suécia, Holanda, Espanha, França, Japão, Colômbia, Chile.
Apesar de existir no mundo diversas pesquisas e o uso desta inovação usualmente, temos que dar tremenda significância aos estudos e colocações por mais que sejam delongadas dessas ações sustentáveis no nosso país. Para o doutor em geotecnia, Luiz Rodrigues de Mello, respondendo a primeira pergunta, a forma seria o asfalto borracha. Autor da tese O Estudo do Dano em Meio Contínuo no Estudo da Fadiga em Misturas Asfálticas, ele explica. “A inclusão da borracha na mistura modifica as características químicas e físicas do ligante. Essas alterações fazem com que o asfalto tenha maior resistência a fadiga e ao envelhecimento. Essas duas propriedades são primordiais para pavimentos mais duradouros”, explica.
O revestimento de vias públicas e de estradas sofre um processo de envelhecimento e desgaste devido o uso contínuo e principalmente por causa da oxidação provocada pelo contato com outros produtos, exigindo substituição após dez anos.

O PROCESSO

No processo de reciclagem, a mistura já existente da produção do asfalto, geralmente em condição deteriorada, é raspada (fresada) e adicionada a novos agregados e ligantes, permitindo o amolecimento do material envelhecido e a formação de uma massa homogênea. Pode-se usar ainda um agente rejuvenescedor (AR) derivado do petróleo que pode repor tais propriedades que forem perdidas no processo.
O processo de obtenção desse pavimento é semelhante ao aplicado na fabricação de asfalto convencional, variando apenas a temperatura necessária para compactar a massa. Para Melo, durante os testes do asfalto borracha utilizou 20 % de borracha moída de pneus usados, essa seria mais uma opção para os pneus inservíveis.


 Figura retrada de: http://src.odiario.com/Imagem/2010/08/25/g_164835912.jpg                        

AÇÃO ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL

Dados divulgados ainda em 2010 pela Reciclanip criada para atender ao Programa Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis – mostraram que a entidade coletou e destinou de forma ecologicamente correta 311, 5 mil toneladas de pneus que não seriam utilizados. Segundo Melo o asfalto de borracha “Seria uma das soluções para o destino de milhões de pneus usados, numa extensão de 1 km numa faixa de 3,5m de largura, pode­ se usar até 625 pneus
Citações um pouco antigas, porém importantes ainda servem de alerta, elas nos mostram que nos últimos quatro anos antes de 2010, o governo federal investia anualmente R$ 3,5 bilhões na conservação, restauração e manutenção rodoviária (CREMA). Segundo o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT), para 2011 estavam previstos R$ 5 bilhões. “Caso houvesse a adesão do asfalto borracha em rodovias ao longo do Brasil, aliado a uma boa pavimentação, certamente estaríamos com menos buracos e teríamos acréscimo de vida útil no pavimento”, garante Mello.
A tecnologia faria com que os investimentos em programas de recuperação de estradas fossem menores, já que após cinco anos de uso, o asfalto borracha ainda não apresenta fissuras, segundo o pesquisador. Entre as principais vantagens do novo produto estão: redução de antioxidantes e do carbono da borracha; aumento da flexibilidade, causada pela elevada concentração de elastômeros (polímeros com propriedades semelhantes à borracha); aumento de até 17º C no ponto de amolecimento, garantindo maior resistência à deformação e baixa suscetibilidade a variações térmicas.

PIONEIRO NACIONAL

No Brasil, em 2001 foi aplicado o primeiro asfalto de borracha. O projeto foi realizado na rodovia BR 116, entre Guaíba e Camaquã, km 319 no estado do Rio Grande do Sul. Dois anos depois, o asfalto de borracha tornou-­se objeto de pesquisa pela Área de Pesquisas e Testes de Pavimentos, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por meio disso testes foram realizados em duas pistas experimentais, uma com asfalto comum, o conhecido CAP 20 (Cimento Asfáltico de Petroléo) e outra com o asfalto de borracha.
Os cientistas submeteram as pistas a uma carga de eixo de 10 toneladas e simularam 98 mil repetições nas pistas, depois dos testes, o asfalto comum estava completamente trincado, enquanto o de borracha dano algum. Somente depois de 300 mil repetições, o trincamento na pista de borracha foi apontado e com um grau de incidência muito baixo.

Trecho experimental – BR 116/RS – 3 anos – Asfalto convencional     Trecho experimental – BR 116/RS – 3 anos – Asfalto borracha
Imagem retirada de um texto de Armando Morilha Junior – Diretor Técnico do Grupo Greca Asfaltos

FALTA DE INCENTIVO
Conforme Mello, infelizmente ainda não há no Brasil incentivo oficial para a incorporação da borracha na composição das misturas do asfalto. “Falta conhecimento da técnica e vontade administrativa para que projetistas, de obras de construção de pistas nas ruas e estradas, comecem a usar esse processo no país”
            No Brasil ainda não há projeto de lei tramitando no Congresso Nacional que obrigue a inclusão da borracha no cimento asfáltico. Existe apenas uma resolução do CONAMA (n°258/99) que determina que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos são obrigadas a coletar e dar um destino ambientalmente adequado aos pneus inservíveis.
Segundo Luciana Nogueira a chefe do Laboratório de Asfalto do Instituto de Pesquisas Rodoviárias (IPR/DNIT) “em 2009 foi aprovada uma norma com configurações específicas para o uso do asfalto borracha nas obras de estradas”, mas “muitos projetistas fizeram o projeto antes da norma ser aprovada. Outro entrave é que precisa ter um controle tecnológico para realizar a mistura”.

CONCLUSÃO

A reciclagem desse material é de estima importância tanto ambiental como social, se levarmos em conta que a não reutilização pode acarretar em diversos maléficos. Vou dar apenas um exemplo de produção exorbitante desse material que é por parte das montadoras de automóveis, onde são incorporados ao mercado cerca de 60 milhões de pneus ao ano (5 peças por veículos).
Por isso, todos nós somos responsáveis por boa parte dos pneus descartados de forma inadequada na natureza. Essa deposição irregular contribui para a proliferação de vetores de doenças, como a dengue, a queima dos pneus velhos a céu aberto emitindo uma série de gases venenosos, aumentando o risco de incêndios, poluindo o ar e contaminando o lençol freático.

REFERÊNCIAS

Fonte: Camila Cotta - Asfalto reciclado com pneus velhos ajuda reduzir impacto ambiental, sem data;

Fonte: Agência Brasil - Pneus usados são transformados em asfalto no Rio Grande do Sul, Publicado por Equipe Eco Viagem em 04/08/2003;

Fonte: Com Agência T1 - Asfalto feito com pneu dura mais e é sustentável, Publicado pela Redação em 04/03/2011;

Um comentário:

  1. Não posso deixar de comentar: Querer implantar leis obrigando o uso de asfalto-borracha é um absurdo tremendo. O Asfalto-Borracha é sim um ligante modificado e como tal apresenta propriedades melhores que um ligante convencional, mas seu uso requer misturas asfálticas com granulometrias específicas que possuam Vazios no Agregado Mineral (VAM) adequados para permitir que a borracha possa ser alocada na mistura. Concretos Asfálticos densos, utilizados na maioria dos pavimentos no Brasil, não possuem VAM adequado, o que faz com que as partículas de borracha "trabalhem" excessivamente e prejudiquem a resistência à fadiga da mistura.

    ResponderExcluir