sábado, 10 de outubro de 2015

Concreto Permeável (1/2)



Seguimento do texto de título O Concreto Permeável ou Poroso (1/1)

O Concreto Permeável ou Poroso (1/2)
Texto adaptado por Érica de Vargas

FUNCIONAMENTO

Como já dito a função permeabilizante somente funciona quando associado à base e sub-base granular. A água da chuva desce pelo concreto poroso onde precisa ser armazenada nessa estrutura granular de pedras ou britas com grande volume de vazios.
Depois que a chuva para, a água que ficou armazenada nos vazios pode seguir dois caminhos: ou vai para o subsolo, quando o subleito é propício para promover esse caminho até o aquífero, ou pode ir para um sistema de drenagem. Aí ela segue para os bueiros e bocas de lobo da cidade ou fica em piscinas de armazenagem ou reservatórios, a partir de onde pode ser reutilizada em espaços sanitários ou jardins.
As normas americanas dizem que, quando o solo é propício, em até 72 horas a água é absorvida e lançada no aquífero. Se o subsolo é compactado e impermeável (argiloso, por exemplo), no entanto, a água que fica na base e na sub-base não consegue ir rapidamente para o lençol freático e fica acumulada no reservatório granular. Nesse caso, as camadas de pedra da estrutura podem encher e transbordar pela superfície, voltando para cima do concreto poroso.

fotos: Divulgação abcp
Estacionamento na sede do Environmental Protection Agency (EPA), em New Jersey (EUA)
Por isso, a recomendação é fazer o cálculo para a espessura do projeto é baseado em duas premissas: a própria resistência do concreto e a quantidade de chuva, e o cálculo hidrológico, com referência a uma chuva de exceção que aconteça em um intervalo de 10, 25, 50 ou 100 anos. Em São Paulo, por exemplo, a normatização para microdrenagem tem como base períodos de retorno de dez anos.
A base e a sub-base são executadas com pedras de no máximo 3/8 de diâmetro, primeiro as pedras maiores, depois as pedras menores e por último pedrisco. Faz-se uma camada de 10 cm a 15 cm de britas, por onde passa o rolo compactador vibratório, e mais outra camada. Grandes profundidades não são necessárias, pois "O pavimento ganha na área, armazena água como uma piscina. Rasinho, mas uma piscina", explica Virgiliis, que experimentou o sistema de drenagem com blocos intertravados de concreto poroso em um projeto de estacionamento construído na USP que descreveremos a seguir.
O concreto tem que ser aplicado com cuidado, não podendo ser jogado nem alisado, e deve ficar rugoso. Também não pode ser desempenado, para não fechar as possibilidades de a água entrar.

ECONÔMIA E DURAÇÃO

O concreto permeável ou poroso, especificamente, pode ser produzido de duas formas: moldado in loco ou em peças pré-moldadas. Virgiliis aconselha cuidado na hora da aplicação em ambos os métodos. Se for a massa jogada em cima da base granular, a regularização pode ser feita com régua. Se forem blocos, eles não devem ser colocados em disposição aleatória, a fim de terem resistência a deformações e não possuírem irregularidades longitudinais.
O sistema pode durar até dez anos com a parte estrutural íntegra, mas é preciso tomar cuidado com a colmatação (entupimento das camadas superiores por sujeira). Estudos indicam que nos primeiros dois anos, a tendência é o concreto poroso perder 50% da capacidade de permeabilização, e continuar perdendo o resto gradativamente até fechar sete anos, quando os vazios estariam entupidos na superfície.
No caso de concreto permeável moldado in loco, a manutenção é feita com a retirada de 3 cm ou 4 cm da camada mais externa, que é substituída por uma nova.
Se o sistema for de blocos, as opções são trocar os blocos por novos ou arrancá-los cuidadosamente e trocá-los de lado. A face externa vira para a estrutura interna e é como se fosse criada uma retro lavagem.
Devido ao tamanho dos grãos, as peças de concreto permeável, são mais caras do que as convencionais. O sistema inteiro de pavimentação chega a custar 35% a mais. Mariana, da ABCP, alerta, porém, que o custo de cada projeto deve ser pensado levando em conta que o concreto permeável tem a função de pavimento e também drenagem respeitando a permeabilização exigida pelos órgãos públicos.

concreto-permeavel-blog-da-engenharia
Existiriam três fases diferentes de infiltrações da água no solo - Foto: Divulgação/Tarmac
ESPECIFICAÇÃO

Para especificar o sistema de drenagem com concreto permeável deve se fazer primeiramente um orçamento-base, indicando quantos metros quadrados de pavimento drenante terá a obra, quantos centímetros terá cada camada, quanto de material cada metro quadrado terá e qual será a composição.

BRASIL

Por enquanto, a presença do concreto permeável no Brasil é tímida, com iniciativas isoladas em estacionamentos de shoppings centers e condomínios.
Em 2009, uma pesquisa na USP levou à construção de um estacionamento de 1.600 m² dividido em dois: de um lado foi feito um sistema de drenagem com asfalto permeável, camada porosa de atrito (CPA), e do outro foram usados blocos intertravados de concreto poroso.
Os blocos permeáveis absorviam a maior parte da água, mas o rejunte usado para unir as peças também tinha propriedades de drenagem. O projeto foi patrocinado pela Prefeitura de São Paulo, a Secretaria de Infra-estrutura Urbana e Obras, em conjunto com o Centro Tecnológico de Hidráulica da USP, e foi tema da dissertação de mestrado de Afonso Virgiliis, "Os dados continuam sendo coletados; e o concreto poroso está dando alguns probleminhas de colmatação", explica o engenheiro. As camadas de base e sub-base foram feitas com 35 cm como margem de segurança. O experimento está localizado em uma região onde ocorre grande volume de chuvas.

REFERÊNCIAS

Escrito por Marina Lira - Concreto permeável promete ser a solução para enchentes, em 28/09/2015;

Escrito por Caroline MazzonettoConcreto permeável, Edição 13 em Abril/2011;

Escrito por Altair Santos Pavimento permeável contra enchente, entrevista Mariana Marchioni, engenheira da ABCP, em 30/03/2011;

Nenhum comentário:

Postar um comentário