Já pensou em uma forma mais
econômica para conservar as rodovias e, ainda, reciclar toneladas de pneus
usados arranjando ele como um material para pavimentação de vias
públicas?
Asfalto com revestimento de Borracha
Texto adaptado por Érica de Vargas
Ainda
falamos de futuro, pois no Brasil seu emprego é adotado, mas ainda
demasiadamente. A nova tecnologia reduzirá os custos de manutenção e aumentará
a vida útil das estradas e vai se constituindo numa alternativa para o uso de
pneus consumidos. Diversos países já utilizam esse processo habitualmente, em
boa parte da malha rodoviária. São eles: Estados Unidos, África do Sul, China,
Austrália, Suécia, Holanda, Espanha, França, Japão, Colômbia, Chile.
Apesar de existir no mundo diversas pesquisas e o
uso desta inovação usualmente, temos que dar tremenda significância aos estudos
e colocações por mais que sejam delongadas dessas ações sustentáveis no nosso
país.
Para o doutor em geotecnia, Luiz Rodrigues de Mello, respondendo a primeira
pergunta, a forma seria o asfalto borracha. Autor da tese O Estudo do Dano em
Meio Contínuo no Estudo da Fadiga em Misturas Asfálticas, ele explica. “A
inclusão da borracha na mistura modifica as características químicas e físicas
do ligante. Essas alterações fazem com que o asfalto tenha maior resistência a
fadiga e ao envelhecimento. Essas duas propriedades são primordiais para
pavimentos mais duradouros”, explica.
O revestimento de vias públicas e de estradas sofre um processo de
envelhecimento e desgaste devido o uso contínuo e principalmente por causa da
oxidação provocada pelo contato com outros produtos, exigindo substituição após
dez anos.
O PROCESSO
No
processo de reciclagem, a mistura já existente da produção do asfalto,
geralmente em condição deteriorada, é raspada (fresada) e adicionada a novos
agregados e ligantes, permitindo o amolecimento do material envelhecido e a
formação de uma massa homogênea. Pode-se usar ainda um agente rejuvenescedor
(AR) derivado do petróleo que pode repor tais propriedades que forem perdidas
no processo.
O
processo de obtenção
desse pavimento é semelhante ao aplicado na fabricação de asfalto
convencional, variando apenas a temperatura necessária para compactar a
massa. Para Melo, durante os testes do asfalto borracha utilizou 20 % de
borracha moída de pneus usados, essa seria mais uma opção para os pneus
inservíveis.
 |
Figura retrada de: http://src.odiario.com/Imagem/2010/08/25/g_164835912.jpg |
AÇÃO ECONÔMICA E SUSTENTÁVEL
Dados
divulgados ainda em 2010 pela Reciclanip criada para atender ao Programa
Nacional de Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis – mostraram que a
entidade coletou e destinou de forma ecologicamente correta 311, 5 mil
toneladas de pneus que não seriam utilizados. Segundo Melo o asfalto de
borracha “Seria uma das soluções para o destino de milhões de pneus usados, numa
extensão de 1 km numa faixa de 3,5m de largura, pode se usar até 625 pneus”
Citações
um pouco antigas, porém importantes ainda servem de alerta, elas nos mostram
que nos últimos quatro anos antes de 2010, o governo federal investia
anualmente R$ 3,5 bilhões na conservação, restauração e manutenção rodoviária
(CREMA). Segundo o Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes
(DNIT), para 2011 estavam previstos R$ 5 bilhões. “Caso houvesse a adesão do
asfalto borracha em rodovias ao longo do Brasil, aliado a uma boa pavimentação,
certamente estaríamos com menos buracos e teríamos acréscimo de vida útil no
pavimento”, garante Mello.
A
tecnologia faria com que os investimentos em programas de recuperação de
estradas fossem menores, já que após cinco anos de uso, o asfalto borracha
ainda não apresenta fissuras, segundo o pesquisador. Entre as principais
vantagens do novo produto estão: redução de antioxidantes e do carbono da
borracha; aumento da flexibilidade, causada pela elevada concentração de
elastômeros (polímeros com propriedades semelhantes à borracha); aumento de até
17º C no ponto de amolecimento, garantindo maior resistência à deformação e
baixa suscetibilidade a variações térmicas.
PIONEIRO NACIONAL
No
Brasil, em 2001 foi aplicado o primeiro asfalto de borracha. O projeto foi
realizado na rodovia BR 116, entre Guaíba e Camaquã, km 319 no estado do Rio
Grande do Sul. Dois anos depois, o asfalto de borracha tornou-se objeto de
pesquisa pela Área de Pesquisas e Testes de Pavimentos, na Universidade Federal
do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por meio disso testes foram realizados em duas
pistas experimentais, uma com asfalto comum, o conhecido CAP 20 (Cimento
Asfáltico de Petroléo) e outra com o asfalto de borracha.
Os
cientistas submeteram as pistas a uma carga de eixo de 10 toneladas e
simularam 98 mil repetições nas pistas, depois dos testes, o asfalto
comum estava completamente trincado, enquanto o de borracha dano algum.
Somente depois de 300 mil repetições, o trincamento na pista de borracha foi
apontado e com um grau de incidência muito baixo.
 |
Trecho experimental –
BR 116/RS – 3 anos – Asfalto convencional
Trecho experimental – BR 116/RS – 3 anos – Asfalto borracha
Imagem
retirada de um texto de Armando Morilha Junior – Diretor Técnico do Grupo
Greca Asfaltos
|
FALTA DE INCENTIVO
Conforme
Mello, infelizmente ainda não há no Brasil incentivo oficial para a
incorporação da borracha na composição das misturas do asfalto. “Falta
conhecimento da técnica e vontade administrativa para que projetistas, de obras
de construção de pistas nas ruas e estradas, comecem a usar esse processo no
país”
No Brasil ainda não há projeto de
lei tramitando no Congresso Nacional que obrigue a inclusão da borracha
no cimento asfáltico. Existe apenas uma resolução do CONAMA (n°258/99) que
determina que as empresas fabricantes e as importadoras de pneumáticos são
obrigadas a coletar e dar um destino ambientalmente adequado aos pneus
inservíveis.
Segundo
Luciana Nogueira a chefe do Laboratório de Asfalto do Instituto de Pesquisas
Rodoviárias (IPR/DNIT) “em 2009 foi aprovada uma norma com configurações
específicas para o uso do asfalto borracha nas obras de estradas”, mas “muitos
projetistas fizeram o projeto antes da norma ser aprovada. Outro entrave é que
precisa ter um controle tecnológico para realizar a mistura”.
CONCLUSÃO
A
reciclagem desse material é de estima importância tanto ambiental como social,
se levarmos em conta que a não reutilização pode acarretar em diversos
maléficos. Vou dar apenas um exemplo de produção exorbitante desse material que
é por parte das montadoras de automóveis, onde são incorporados ao mercado
cerca de 60 milhões de pneus ao ano (5 peças por veículos).
Por
isso, todos nós somos responsáveis por boa parte dos pneus descartados de forma
inadequada na natureza. Essa deposição irregular contribui para a proliferação
de vetores de doenças, como a dengue, a queima dos pneus velhos a céu aberto
emitindo uma série de gases venenosos, aumentando o risco de incêndios,
poluindo o ar e contaminando o lençol freático.
REFERÊNCIAS
Fonte: Camila Cotta - Asfalto reciclado
com pneus velhos ajuda reduzir impacto ambiental, sem data;
Fonte: Agência Brasil
- Pneus usados são transformados em
asfalto no Rio Grande do Sul, Publicado
por Equipe
Eco Viagem em 04/08/2003;
Fonte: Com Agência T1
- Asfalto feito com pneu dura mais e é
sustentável, Publicado pela Redação
em 04/03/2011;